Manterrupting?

Ontem fiz 20 anos de namoro. Vinte anos gente!

Para alguns é uma data pequena, pois já comemoraram números muito maiores e estão acostumados com pais e avós comemorando muitas bodas. Mas para mim, para a minha geração, é motivo de muito orgulho. Hoje os relacionamentos são baseados apenas na vontade de estar junto. A pressão social para permanecer casado, e a vergonha de ser divorciado, foram ficando para trás. Hoje estar 20 anos com a mesma pessoa, principalmente nos casos onde não há grandes bens a dividir, é puramente uma decisão de amor.

Eu escolho dividir meus dias com uma pessoa que me respeita, que me da voz, que me permite voar e torce por mim (e claro que é recíproco). Aprendemos juntos o espaço que cabe cada um, e os espaços que cabem os dois juntos. Isso não diz respeito somente a nossa relação, mas a um posicionamento social que ensino também aos meus filhos.

Você já ouviu falar de manterrupting? Este termo vindo do inglês é usado para descrever uma situação em que homens interrompem mulheres de forma constante ou desnecessária, especialmente em conversas profissionais, debates ou reuniões.

Você está achando balela? Pois saiba que as pesquisas mostram que as mulheres são interrompidas 40% a mais do que homens em reuniões de trabalho. Isso quando conseguem espaço de fala.

Eu já deixei de admirar uma autoridade estadual quando uma amiga que trabalha com ele comentou que em uma reunião ele apresentou todos na mesa menos ela, que era mulher. Você já se imaginou nesta situação? Você ser a única pessoa sem nome, sem interesse e sem espaço em uma mesa de reunião?

Vivemos novos tempos. De fato, somos a geração que está atravessando esta transformação e temos que ter paciência com as mudanças. Mas a minha forma de aceitar é trazendo o assunto para as pautas, para que você entenda o outro lado e não cometa este tipo de erro.

Aproveito para te ensinar outros termos: Mansplaining: quando um homem explica algo para uma mulher de maneira condescendente, assumindo que ela sabe menos. Bropriating: quando um homem se apropria de uma ideia dita anteriormente por uma mulher e recebe crédito por ela.

E sabe porque estes nomes (ou mimimis para alguns) existem? Porque tudo que acontece repetidamente acaba recebendo um nome. Porque isso não acontece só comigo, ou só com as mulheres no senado. Isso acontece dentro da sua casa, quando você não aceita a ideia da sua esposa, mas aceita quando a mesma ideia vem de um homem. Quando você interrompe a sua esposa antes de ela conseguir explicar o que pensa, ou quando você fica só esperando ela terminar sem ouvir de fato, mas pensando no seu argumento.

Não, não são todos. E por isso estamos caminhando para o sucesso. Não são todos, e por isso estou com a mesma pessoa há 20 anos. Mas são muitos, e é o nosso papel falar sobre, e principalmente, ensinar nossos filhos a serem melhores, respeitando todos os poderes de fala, pois das ideias mais loucas que surge a inovação.

Daphne Kich Becker